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Uma visita ao templo impressionista

Completei seis meses em Paris e a cada vez que o calendário é riscado, sinto que os meses que me restam por aqui parecem pouco para tudo o que desejo fazer e conhecer. Não bastasse descobrir a cada dia um novo lugar espetacular para ir, ainda é indispensável revisitar muitos dos que eu já passei - nem que seja para acompanhar os que vêm nos visitar. A verdade é que repetir as experiências aqui não é nem um esforço, nem para nós, nem para os franceses, que se misturam aos turistas e também não se cansam de renovar a paixão pela capital.

Num desses domingos, fizemos um roteiro turístico bem clássico. Primeiro, desembarcamos na Sainte-Chapelle, um dos lugares indispensáveis para quem chega à Paris. A capela, inaugurada em 1248, foi um dos primeiros lugares que visitei por aqui em 2012, com companheiros da pós-graduação e da vida (beijo, Carol e Ana). Como o espaço tem limitação de visitantes, é quase impossível fugir das filas. A espera pode passar facilmente de uma hora, mas o trabalho delicado dos vitrais compensa. A visita ali é relativamente rápida, por isso aconselho sentar-se um pouco no interior da capela e esperar a luz do sol (e suas constantes nuances) agir nos vitrais. A satisfação é garantida! :D

Dá para se ter várias perspectivas dos vitrais conforme a posição do sol na Sainte-Chapelle

Depois seguimos pelas margens do Rio Sena em direção ao Musée du Louvre, e atravessando o Jardin de Tuileries até o Musée de l'Orangerie, cujo interior eu só conhecia do filme Meia Noite em Paris (vocês lembram de uma das cenas em que o chato do Paul Bates dá mais uma amostra gratuita de ninguém-me-perguntou-mas-eu-quero-provar-que-sei sobre as Nymphéas, de Claude Monet?). Na cena, eles aparecem praticamente sozinhos em uma das duas salas do museu, algo bem longe da realidade de qualquer lugar turístico parisiense, diga-se de passagem. Mas lembro que o que ficou mais marcado mesmo foi a disposição das obras naquele espaço, fator que há muito tempo me fazia ter vontade de passar por lá.

Como vocês podem ver, o museu é tão concorrido como qualquer outro em Paris

Por serem ovais, as paredes abraçam a obra do Monet de tal maneira, que tornam as duas salas rodeadas pelas Nymphéas (nome que remete aos lírios que Monet conservava na lagoa de sua propriedade e que inspirou inúmeros de seus trabalhos) em uma espécie de pseudo-imersão na paisagem que ainda pode ser contemplada pessoalmente na antiga casa do artista em Giverny, Normandia (a 78km de Paris).

Eu, fazendo a estátua do Oscar, para vos dar uma noção do tamando de um dos painéis

Os oito painéis que formam o ciclo são enormes (1,97m de altura e diferentes larguras), ampliando o que de mais encantador se pode tirar de uma obra impressionista: a experiência de ver diversas obras dentro da mesma à medida que nos aproximamos ou nos distanciamos dela. As grandes dimensões propiciam, ainda, que pequenos detalhes se agigantem, sejam as formas de pinceladas, ou bordas não preenchidas pelo artista.

A ausência de tinta me chamou a atenção no acabamento dos painéis

Delicadezas como esta estão por toda a instalação Parece que o Musée de l'Orangerie é a casa perfeita para as Nymphéas. E, descobrindo sua história, a impressão faz sentido. A instalação no l'Orangerie respeita a vontade do artista, desde o projeto arquitetônico, o espaço entre os painéis e a iluminação. As obras começaram a ser oferecidas pelo próprio Monet à Paris em 1918. À princípio, o cadeau era composto de duas telas, que ao longo dos anos foram virando um conjunto, instalado neste museu em 1927, poucos meses após a morte do pintor. Os primeiros sinais do que podemos chamar de um grande projeto apareceram já no final da década de 1890.

É importante ressaltar que nem sempre Monet foi a grande estrela do museu, apesar de o prédio, originalmente um depósito de laranjas (é sério!), ter se transformado no que é hoje por conta da instalação impressionista. O movimento artístico liderado pelo francês já foi desacreditado pelas vanguardas do início do século XX e, por isso, durante algumas décadas o público não valorizava as Nympheas. O museu mesmo admite ter "escondido" a instalação em favor de exposições temporárias como forma de atrair os espectadores. Foi só depois da Segunda Guerra Mundial que esta obra passa a ser vista da maneira que merece: como a "Capela Sistina do Impressionismo".

Até hoje o Musée de l'Orangerie apresenta mostras temporárias. Infelizmente, não pude conhecer o espaço onde são depositadas, já que a última, "Qui a peur des femmes photographes?", encerrou em janeiro, e a próxima só entrará em cartaz em abril. No mais, o museu também abriga uma riquíssima coleção permanente que pertenceu ao marchant Paul Guillaume. São 146 obras de nomes como Picasso, Matisse, Modigliani, Marie Laurencin e Henri Rousseau, produzidas entre 1860 e 1930, década da morte do colecionador.

Pintura de Paul Cézanne é um dos destaques da coleção

Ah, o passeio terminou em uma caminhada pela avenida Champs Elysees e uma subida ao Arc de Triomphe. Haja perna! Mas a vista vale à pena (arrisco-me a dizer que é melhor do que a da Torre Eiffel) #ficaadica

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