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Contemporâneo e distante da muvuca

Tem alguns lugares em Paris que eu realmente não entendo o por quê de estarem fora das listas de indicações e guias turísticos. Portanto, imaginem o tamanho da minha surpresa ao descobrir entre estes "renegados" uma galeria pública de arte contemporânea, sem fins comerciais, longe do assédio dos turistas e gratuita.

O Plateau - Centre d'art contemporain, na esquina entre duas pacatas ruas de Belleville (Alouettes e Carducci), entrou no meu radar com algum esforço. Paris não esconde a vocação para as exposições de arte, anunciadas como grandes atrações nas populares publicidades das estações de metrô, mas o que me guiou até o Plateau foi um site local de eventos, por mero acaso e sem grandes destaques. E ainda que o espaço possua um site próprio, só fui descobrir sua importância in loco.

A galeria é uma das 23 unidades chamadas de FRAC (Fundos Regionais de Arte Contemporânea), espalhadas por todas as regiões da França. Esta de Belleville é uma das duas representantes da Île-de-France, que compreende Paris e alguns municípios menores. Achei a escolha do bairro mais que merecida, devido ao que mencionei na última postagem. Além do Plateau, a região conta com o Château Rentilly, instalado no Parc Culturel de Rentilly, em Bussy-Saint-Martin.

O projeto público criado em 1982 reúne coleções de arte contemporânea próprias, com o intuito de descentralizar as produções atuais para todos os públicos da França. As unidades somam um acervo de 26 mil obras, entre desenhos, esculturas, pinturas, instalações e vídeos, de 4,2 mil artistas franceses e estrangeiros. Um terço destas obras são apresentadas ao público a cada ano.

A unidade parisiense é relativamente pequena se comparada a de outras cidades, como Marseille e Orleans, as quais possuem uma arquitetura igualmente contemporânea. Pelo contrário, o prédio cinza e pouco sinalizado praticamente passa despercebido, talvez por isso eu não tenha esbarrado com mais de cinco visitantes durante o tempo que permaneci lá. Além de uma recepção, ele conta com dois salões que podem ser vistos de fora por quem caminha pela calçada.

Fachada discreta do prédio do Plateau de Paris

No Plateau são realizadas de três a quatro programas de exposições anuais, alternando entre individuais e grupos. Visitei a coletiva "De toi à la surface", em cartaz até 10 de abril. A mostra tem curadoria de Françoi Aubart e contempla obras de 10 artistas, entre franceses, americanos, dinamarqueses, alemães e suecos. A costura de Aubart, responsável pelas exposições do espaço até 2017, é pautada na relação entre espectador e objeto, estimulando uma história fictícia entre eles.

Visão geral de um dos salões. A galeria tem um ar fabril e rústico

Estas informações gerais são oferecidas, em francês e inglês, nos guias distribuídos na recepção do Plateau. Como as obras não são identificadas como normalmente ocorre em museus, o guia da exposição é essencial para ir descobrindo título e autor durante a visita. Também são disponibilizados dossiês dos artistas na entrada, além de monitores que circulam constantemente pela mostra e são super prestativos. Esta munição toda ajuda, e muito, a entender a proposta da exposição. Sem essa papelada oferecida na recepção, provavelmente você, assim como eu, não encontraria o elo entre os trabalhos.

Instalação da série "Bouquet", de 2016, assinada por Simon Dybbroe Muller

Para vocês terem uma ideia da proposta do curador, pincei algumas obras seguidas de uma breve descrição oficial. Esta instalação de objetos acima é uma das seis obras do dinamarquês Simon Dybbroe Moller espalhadas pelo Plateau. Seu trabalho joga com as possibilidades de livre associação, utilizando produtos de consumo cotidiano. O "Bouquet" da imagem é uma das composições em que o artista usa carrinhos dobráveis como recipiente de conexões. Já "Animate V", um vídeo, apresenta um carro de luxo, chegando a se confundir com uma peça publicitária. A montagem fragmentada e descontínua, no entanto, se aproxima do movimento Nouvelle Vague.

"Water Feature" (2015), de Shelly Nadashi

A peça em argila acima faz parte do conjunto de criação da francesa Shelly Nadashi. "Water Feature" consiste em uma parede de azulejos de cerâmica que forma um apoio para oito telhas de barro que descrevem um homem. Antes, há uma tigela e uma fonte de argila colocado sobre base de metal. Os itens são expostos ao natural, sem os comuns retoques após o cozimento do material. A combinação destes elementos evoca um universo de casa de banho, piscina ou qualquer lugar onde a pele nua entra em contato direto com o meio ambiente.

"Selections from the Eleventh Spectacle (The Erotic)" (1979), videoarte de Stuart Sherman

Achei esta videoarte de Stuart Sherman um dos trabalhos mais instigantes da exposição. Em "Selections from the Eleventh Spectacle (The Erotic)", o artista atua sobre uma mesa dobrável, com um conjunto de objetos que ele chama de "artefatos baratos". Seus gestos geram diversas combinações de objetos. Assim, Stuart propõe substituir as palavras por associações e colocá-los face ao público para a criação de uma linguagem feita de objetos. INFORMAÇÕES PRÁTICAS: O Plateau fica no nº 22 da rua des Alouettes. A entrada é gratuita, mas o horário de funcionamento é um pouco restrito, de quarta-feira a domingo, das 14h às 19h.

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