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Entre as paredes de Eugène Delacroix

Um dia de sol e temperatura acima dos 15ºC pede um passeio ao ar livre. Quando escrevo esta postagem, já estamos há duas semanas na primavera em Paris, mas ainda nem tudo é verde e florido. Ao contrário dos bares e restaurantes, esses sim, com suas varandas tomadas não mais pelos trajes pretos e cinzas. Aos poucos, os parisienses começam a adicionar cores nas roupas e mais sorrisos no rosto. Ah, como estou poética... (rsrs)

Brincadeiras à parte, a despedida do frio é tão aguardada que eu acho uma pena passar algumas horas que seja destes dias em lugares fechados. Como nem todas as riquezas da capital francesa estão sob o céu azul, o jeito é optar por lugares que ofereçam ambas as opções. Foi isso que nos levou recentemente ao Museu Nacional Eugène Delacroix, que funciona no prédio ocupado pelo artista entre 1857 até a morte dele, em 1863. Além de ser uma visita entre paredes que não te prenderá por mais de uma hora e meia, garante um banho de sol (se o tempo ajudar, é claro) em um simpático jardim privado.

Até com as coordenadas em mãos é possível passar batido pela discreto portão de acesso à antiga morada de Delacroix, de frente para a Place de Furstenberg. Mesmo estando ligado ao Musée du Louvre, o movimento por lá é tranquilo e não imagino que em algum momento possa haver fila para entrar, ainda que o museu tenha grande importância. Neste ano, ele entrou para uma seleta lista de Maisons des Ilustres, selo oferecido pelo Ministério da Cultura e Comunicação da França como uma forma de valorizar os patrimônios históricos. O órgão segue algumas regras para nomear as iniciativas, como o fato do espaço não ter cunho comercial. O selo é concedido por um período de cinco anos, podendo ser renovado depois de nova análise.

A entrada do museu não é uma das mais chamativas de Paris, concordam?

A exposição em curso é "Delacroix en Modèle", que ocupa o antigo atelier, alguns degraus separado do apartamento, onde estão outras obras e móveis aleatórios do artista. O acervo revela o interesse de Delacroix pelo teatro, sobretudo pelas peças de William Shakespeare, e como as poucas viagens influenciaram a produção do mais célebre representante do romantismo francês. Algumas obras do início da exposição são acompanhadas de uma contextualização escrita como se o próprio interlocutor fosse Delacroix, recurso que até poderia ter sido mais usado.

Ah, um aviso importante: não espere ver por lá o quadro mais famoso dele, "A Liberdade Guiando o Povo", em referência Revolução Francesa, ok? Esse é um dos grandes destaques do Louvre.

Visão do antigo atelier do artista, com um suporte para tela em primeiro plano

Se a expectativa é ver uma remontagem do ambiente de trabalho do artista no fim do século 19, a visita ao atelier também não corresponde. O local é mais um espaço expositivo, onde está a mostra temporária já citada, que apresenta obras de outros artistas para os quais Delacroix serviu de inspiração.

A sala conserva o janelão comum nas construções voltadas para a pintura, já que garante uma boa captação da luz natural; um suporte para as telas (para mim não ficou claro se pertencia ao artista) e uma mesa para a manipulação de tintas.

Esta ambientação mais íntima até poderia ter sido mantida se a intenção de formar um museu do artista tivesse surgido logo após a morte dele. Demorou algumas décadas até que um grupo de pintores e amantes das artes, vendo que o apartamento e atelier eram descaracterizados a cada novo inquilino, tomassem para si a responsabilidade de gerir o espaço junto a ações em memória ao legado de Delacroix. A associação de amigos de Eugène Delacroix foi reconhecida em 1934, e a alcunha de museu nacional, somente em 1971.

O jardim tem seu charme e nos convida a um descanso antes de partir

Do jardim, percebemos que as janelas do atelier também proporcionavam para Delacroix uma bela vista. O paisagismo foi renovado em 2012 pelo jardineiro chef do Jardin Tuileries, que se ateve a registros do terreno para recuperar o estilo original que o artista tanto apreciava entre uma pincelada e outra.

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