Museu Cluny: convite para um retorno em 2020
- Rafaela Mazzaro
- 25 de abr. de 2016
- 2 min de leitura
A alguns passos do Museu Nacional Eugène Delacroix, ainda na Quartier Latin, em Paris, está o Museu de Cluny ou Museu Nacional da Idade Média. Fizemos exatamente este percurso: depois de conhecer os antigos aposentos do pintor francês, caminhamos pela movimentada boulevard Saint-Germain e uns 10 minutos depois já nos deparávamos com a construção que ocupa todo um quarteirão.
Atualmente, o museu passa por um processo de restauração que nos impediu de conhecer o seu jardim (uma recriação dos modelos medievais) e a capela que integra o núcleo de visitação, composto pelas Termas Galo-Romanas (séculos 1-3 D.C.) e pela ala residencial dos monges de Cluny (século 15). As obras irão adequar o museu às normas de acessibilidade, além reestruturar a recepção e reorganizar o circuito de exposições. Algumas das adequações devem ficar prontas até o ano que vem. Já a previsão para término das obras de maior fôlego, incluindo o jardim, é 2020. Espero voltar a tempo de ver a reinauguração ;)
Não poder visitar as instalações por completo trouxe um pouquinho de desapontamento, já que por mais que o acervo seja riquíssimo, é a edificação que mais enche os meus olhos. Por outro lado, o esforço em manter o funcionamento do museu em paralelo a um grande projeto (que pode ser visto no vídeo abaixo) e a preocupação com a conservação do lugar vão garantir mais algumas décadas de aula de história palpável.
Ainda fomos beneficiados por um projeto da universidade Paris-Dauphine. Trinta estudantes, espalhados pelas salas do museu, faziam comentários e tiravam dúvidas dos visitantes, em francês e inglês. A ação de repetirá na tarde do dia 5 de junho, só que com os estudantes da Escola do Louvre.
Como disse, a parte mais antiga do complexo, sozinha, me atrairia até lá. No entanto, os objetos, esculturas sacras antiquíssimas em madeira, peças em ouro e pedras preciosas e outras esculpidas em marfim, formam uma imperdível coleção. Sem contar que a série em tapeçaria "A Dama e o Unicórnio" está lá e é considerada por muitos a grande atração do Museu Cluny.

As seis imagens enigmáticas, nas quais a presença de uma mulher e um unicórnio, entre outros animais, representam os sentidos (tato, olfato, paladar, visão, audição e o "sexto sentido" - este permanece bastante misterioso), continuam rendendo estudos iconográficos, tanto que recentemente foi tema de uma série de mesas redondas e seminários no Instituto Nacional de História da Arte (INHA), em Paris.
O estado de conservação dos tapetes é invejável, já que estima-se que o conjunto tenha mais de 500 anos. Claro que as cores estão um tanto desbotadas e é possível observar alguns "ajustes" que denunciam diferenças entre os materiais originais e os utilizados posteriormente. Nada que abale o fascínio dos visitantes que fazem a sala dos tapetes a mais movimentada do museu e gastam horas observando as narrativas subjetivas.
Acredito que A Dama e o Unicórnio entregou uma nova perspectiva sobre o valor que a tapeçaria ocupa nas artes. Corrijam-me se eu estiver equivocada, mas é fato que são poucos os tramados entre os destaque dos acervos. Depois de conhecer a obra, o desafio é passar ileso na lojinha do museu, cheia de artigos com estampa do unicórnio. Uma fofura só!
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