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O fascínio pelos ateliers de artistas no Petit Palais

Duas semanas atrás, contei sobre uma visita ao Museu D'Orsay durante a Nuit Européenne des Musées e acabei deixando a continuação do meu percurso naquela noite para outro post. Et voici!

Depois de sair da exposição sobre o pintor Henri Rousseau, aproveitei as duas horas que restavam para encerrar o expediente dos museus e me joguei para o Petit Palais, cujo acervo eu devia uma visita há tempo. O prédio não é só a versão menor do Grand Palais, localizado a poucos passos de distância e por onde estive para ver "Picasso.Mania" no ano passado. Ambos os palácios foram construídos para a Exposição Universal de 1900 e transformados em museus compostos por acervos permanentes, com acesso gratuito, e exposições temporárias igualmente requisitadas.

Infelizmente, a minha passagem naquela noite foi insuficiente para conhecer a coleção fixa de obras e o próprio prédio, projeto deslumbrante do arquiteto Charles Girault. A caminhada saindo do Museu d'Orsay, somada à filinha básica que chegava à calçada, me obrigou a optar por um único setor. Achei que valeria a pena ficar pela mostra temporária "Dans l'Atelier”, já que estará em cartaz só até 17 de julho. Eu a subestimei, logicamente. Pensei que uma hora seria suficiente para conferir os registros fotográficos de ateliers de artistas, mas, quando me dei conta, soou o aviso de fechamento e eu não estava nem na metade do percurso. Corri para aproveitar os 10 minutos restantes e voltaria com o maior prazer não fossem os 17.928 lugares/exposições que faltam para eu visitar nos meus próximos (e derradeiros) três meses na Europa.

Embora rápida, a visita a "Dans l'Atelier" me deixou super empolgada e queria muito dividi-la com vocês. Primeiro porque não é somente a obra em si que interessa a quem estuda e aprecia arte, mas todo o processo percorrido por ela até que alcance nossa visão. Nisto, o papel dos ateliers de artistas, como micros universos, muitas vezes idealizados pelo público, são um prato cheio e a exposição reafirma a contribuição da fotografia na criação deste fascínio.

A coleção propõe observar diferenças entre os ateliers contemporâneos e os do século 19, começando pela série de cliques do francês Edmond Bénard (1838-1907). É dele a foto abaixo, do artista Alexandre Cabanel, em 1880, e dezenas de outras que o transformaram em especialista no tema.

Edmond Bénard Alexandre Cabanel em seu ateliê em Paris, em 1880.

As imagens mais antigas mostram os ateliers como extensão da casa dos artistas, quase salas de chá de tão organizadas e mobiliadas ou mesmo pequenas galerias de arte, onde, não fosse a presença de um cavalete, seria impossível imaginar a existência de produção por ali.

Em contrapartida, os textos curatoriais nos convidam a refletir sobre o que realmente é natural na cena, já que quando um fotógrafo adentra o espaço, nenhum gesto deve ser considerado inocente. "Ele (o fotógrafo) transforma e recompõe a realidade, propondo ao público uma visão mais ou menos idealizada, íntima e verdadeira."

Bénard fez escola, e os primeiros alunos foram Gautier Deblonde e Catherine Leutenegger. As revistas a partir do século 20 também ajudaram a alimentar a curiosidade pela intimidade dos artistas e aumentar a frequência deste tipo de registro. A exposição é muito feliz em apresentar edições de algumas delas com Salvador Dalí e Pablo Picasso posando como verdadeiras celebridades. Um exemplo mais próximo de nosso tempo é do artista americano Jeff Koons, de quem Deblonde expõe o ateliê abaixo.

Gautier Deblonde Ateliê de Jeff Koons em Nova York, em 2005

As imagens mais antigas apresentam os ateliers como cômodos integrados às casas: quadros nas paredes, mobília, tapete aparando o cavalete, uma certa organização visual sem bagunça de tintas, telas, etc. A cena pode ter sido preparada, claro, inclusive pelo próprio artista. Com o passar do tempo, começam a aparecer registros mais naturais, de artistas vistos em plena ação, como nestas fotos abaixo.

Maurice Guibert Toulouse-Lautrec pintando o quadro Dança no Moulin Rouge, em 1895

William Elborne Camille Claudel e Jessie Lipscomb no ateliê 117 da rua Notre-Dame-des-Champs, em Paris, 1887

Claro que, ao mudar a forma de se fazer arte, muda-se também a concepção de ateliê – isso quando ele existe. Hoje, o que se tem muitas vezes são laboratórios ou oficinas digitais. O espaço de trabalho de Elisworth Kelly é bem ilustrativo neste sentido, chegando a se aproximar da imagem de um escritório.

Gautier Deblonde Ateliê de Elisworth Kelly em Nova York, 2005

Isto é só um pouquinho do que oferece a exposição, que reúne mais de 400 imagens e guarda muitas curiosidades, como esta apresentação de Francis Bacon. Que caos visual, Senhor! Como ele conseguia encontrar um lápis sequer nesta confusão?

Carlos Freire Francis Bacon em seu ateliê de Londres, em 1977

O Petit Palais fica bem perto da avenida Champs Elysees e atende de terça a domingo, das 10 às 18 horas. O acesso à exposição permanente é gratuito, já as temporárias como “Dans l’Atelier” custam em torno de 10 euros.

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