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Museu Berardo: uma grata surpresa em Lisboa

Lisboa me surpreendeu em vários sentidos. Embarquei com um roteiro bem definido para cinco dias e a cidade simplesmente me obrigou a frear a histeria turística e aproveitá-la de uma forma mais zen. Cada bairro da capital portuguesa deve ser explorado com calma e muitas paradas estratégicas, seja às margens do rio Tejo ou em um boteco acompanhado de uma Sagres. Inevitavelmente, o roteiro se mostrou curto para algumas das atividades programadas, entre elas a visita ao Museu Coleção Berardo.

Em meio a duas das principais atrações da região de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos e a Torre de Belém, o museu passa despercebido pela multidão de turistas. Para quem havia encarado filas desde as primeiras horas da manhã (para embarcar no VLT, tomar café no famoso Pastel de Belém, comprar ingressos para os monumentos, etc), entrar lá foi como me sentir num paraíso particular. É preciso considerar que Berardo, ainda assim, é o único de Portugal no Top 100 dos museus de arte mais visitados no mundo em 2015. Ele ocupa a 74ª posição, estando, por exemplo, à frente do Palais de Tokyo, em Paris.

O prédio é novíssimo, gigante e acessível. O local foi construído especialmente para abrigar a coleção de arte moderna e contemporânea, o que beneficia muito a visita. A entrada é gratuita e o staff simpático. Você pode até deixar sua bolsa no guarda-volumes sem pagar nada.

Estes pontos são detalhes perto da variedade e, sobretudo, a importância da coleção, composta por obras que a gente só vê em livros de arte. Elas foram acumuladas durante décadas pelo empresário José Berardo. Em 2006, ele entrou em acordo com o governo português, atual responsável por gerenciar o conjunto de obras. O contrato de comodato tem prazo de 10 anos e por enquanto tem sido renovado sem problemas - apesar de algumas críticas ao alto investimento público para uma coleção privada avaliada em 316 milhões de euros.

Como disse, a visita foi rápida porque eu desconhecia o prestígio do museu. Então, eis o aviso: dispense uma manhã ou uma tarde inteira para passear por lá.

Fiquei concentrada no acervo permanente, localizado no segundo piso do prédio, formado pelos maiores representantes dos movimentos estéticos do século 20. Nos outros andares, há um riquíssimo acervo de arte contemporânea que eu apenas pude dar uma passada de olhos.

Na parte permanente, a quantidade de obras é absurda para uma coleção privada e garante uma viagem pela história da arte recente (de 1900 a 1960). A disposição dos trabalhos segue uma organização didática, começando pelos cubistas, dadaístas, construtivistas e chegando até os movimentos Pop Art americano e britânico. Nos dois últimos, há muitos nomes considerados ícones, como Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi, Peter Blake, Patrick Caufield, David Hockney e Allen Jones, na Inglaterra; e Andy Warhol, Tom Wesselmann, Claes Oldenburg e Roy Lichtenstein, nos Estados Unidos.

As embalagens de Brillo, de Andy Warhol, em primeiro plano

A área cubista também reserva grandes nomes como Pablo Picasso, Georges Braque, Francis Picabia, Marcel Duchamp, entre outros. O mesmo vemos na parte surrealista, composta por obras de Salvador Dalí, Joan Miró, André Breton, Marx Ernst e Man Ray.

White Aphrodisiac Telephone (1936), de Salvador Dalí

Atualmente, o Museu Berardo está com outras três exposições temporárias – fotografia, arte portuguesa e a coletiva "Matter Fictions". Não deixem de prestar atenção no trabalho da fotógrafa portuguesa Pauliana Valente Pimentel no registro de rapazes transgênero.

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