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"Pentimento", a exposição de Juarez Machado em Paris

Lembro exatamente da minha primeira entrevista com o artista Juarez Machado. Era 2010 e eu debutava no jornalismo. Naturalmente, estava nervosa com a possibilidade de falar com o famoso pintor e totalmente insegura com as perguntas que havia elaborado sobre a série que ele acabara de concluir (“Le Parfum”), tema da reportagem.

O encontro aconteceu no ateliê improvisado numa espécie de depósito aos fundos de uma galeria comercial - ironicamente, onde funcionou uma fábrica no passado, um detalhe que os joinvilenses entenderão bem. Lá estavam alguns quadros em processo, e outros, já prontos, decoravam o espaço. Havia um tapete persa, música e um artista de blazer e camisa de alfaiataria à minha espera. Nenhum pingo de tinta, diga-se de passagem, mas sim, ele estava em horário de trabalho.

A imagem do artista intocável se desfez em poucos minutos. Fui surpreendida por um homem falante, disposto a conversar e não só a responder perguntas. Ele falava sobre tudo, saltando de um assunto a outro na mesma frequência com que as ideias pareciam lhe visitar. Achei melhor guardar as perguntas escritas. Afinal, já nem precisava mais delas.

A entrevista durou muito mais do que eu imaginava. Meu expediente já havia terminado. Então, ao invés de voltar para a redação, segui caminhando para a minha casa, que ficava a poucas quadras dali. As palavras sedutoras do artista não saíam da minha cabeça, assim como quando escrevo este texto.

O mesmo aconteceu nos encontros seguintes, mais raros do que eu gostaria, é verdade, porém sempre longos e interessantes. Como de costume, Juarez tem muito a dizer em todos eles.

Hoje consigo entender porque ele mantém seu apartamento na rua Abbesses, na pulsante Montmartre, mesmo cumprindo uma agenda farta no Brasil. Juarez combina com Paris, sobretudo pela figura romantizada de "pintor à moda antiga" que ele bem conserva. Talvez por isso tenha sido tão simbólico ver seus trabalhos por aqui.

Poucos dias após o lançamento, fui conhecer a coleção "Pentimento", que a galeria parisiense Rauchfeld apresenta até 25 de junho. O comércio de arte fica na estreita rua Seine, cercado por outros de mesmo setor, e é onde Juarez também confiou, em 2013, uma individual inspirada na vida parisiense.

Alguns temas são recorrentes nos quadros de Juarez, e não é desta vez que eles deixam de estar presentes. Os personagens que passeiam de vélo, namoram, dançam e celebram com taças cheias, no entanto, agora fazem frente a uma segunda história, na maioria das vezes, protagonizada por gueixas/figuras japonesas.

A chave para decifrar a coleção está no próprio nome. Pentimento significa, segundo o dicionário italiano, arrependimento. Na linguagem das artes plásticas, o termo é usado quando "uma alteração é executada numa pintura enquanto sua feitura está em andamento".

Ainda neste sentido, a palavra lembra que, no passado, era comum artistas reaproveitarem telas já pintadas para criar novos trabalhos, numa sobreposição que às vezes só era descoberta ao acaso. Rato de museu, como se define, Juarez fez deste hábito antigo um laboratório para esta série: "Na verdade, estas duas imagens em competição acabam por se somar, por formar um terceiro quadro. (...) Ao fim, as duas imagens são vivas e lutam para estar ao primeiro plano. Esta disputa me move, me seduz e me encanta." (trecho extraído do texto abaixo)

Os quadros foram produzidos em 2015 e alguns deles já passearam pelo perfil do artista no Facebook, plataforma onde ele frequentemente compartilha seus devaneios e trabalhos mais recentes.

A obra de Juarez Machado também pode ser vista no Brasil, em seu instituto internacional, sediado em Joinville, Santa Catarina. É lá que atualmente está em cartaz “Juarez Machado em Rótulos”, mostra com estudos, pinturas e poemas que ilustram uma linha de vinhos em homenagem ao artista.

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