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Juarez Machado como Delacroix para televisão francesa

O rigor ao tratar do ofício de criar imagens aproxima duas figuras separadas por uma longa linha do tempo. Há menos de um mês, este talvez fosse o único ponto em comum entre um pintor brasileiro do século 21 e um pintor francês de século 19. Ambos tiveram e têm, no caso do brasileiro, uma trajetória ligada à insistente vontade de viver de arte e, para isso, sempre mantiveram uma produção constante.

Quando Juarez Machado nascia em Joinville, Norte de Santa Catarina, o francês Eugène Delacroix já era um clássico mundial. Mas eis que o destino fez com que o autor de A Liberdade Guiando o Povo precisasse reviver por algumas horas diante das câmeras e Machado viesse a se encaixar como uma luva no papel.

Pelo menos aos olhos da jornalista e diretora Laurence Thiriat, não havia melhor interprete para Delacroix. A semelhança física foi melhorada por uma peruca, mas todo o resto saiu do armário do próprio brasileiro, que em agosto completa 30 anos de residência em Paris.

Laurence, dona de um currículo com várias produções audiovisuais voltadas às artes, foi bem sucedida em confiar nos palpites de conhecidos que apontaram Machado como um Delacroix em potencial. Mas é verdade que ela também teve bastante sorte. Sua produção nem precisou providenciar um cenário para remontar o momento de escritas, reflexões e trabalhos do francês. O próprio atelier de Machado em Paris serviu perfeitamente como locação. Autêntico prédio de pintores, a morada do brasileiro na capital francesa guarda uma porção de relíquias aproveitadas em cena.

Machado com Laurence durante as gravações no atelier do artista

As imagens captadas em junho, com tomadas no antigo atelier de Delacroix, hoje um museu em sua homenagem, farão parte de um documentário encomendado pelo canal France 5 com previsão de transmissão entre outubro e novembro de 2016. É para este período também que está prometida a entrega da restauração do último trabalho de envergadura de Delacroix: três pinturas murais da capela Saint-Anges, na igreja Saint-Sulpice.

Delacroix, ironicamente ateu, levou 12 anos para concluir as passagens bíblicas encomendadas - a luta de Jacó com o anjo, São Miguel derrotando o demônio e a expulsão de Heliodoro do templo. A recuperação das imagens é extremamente delicada. Para isolar a umidade da parede, o artista sobrepôs muitas camadas de cera, resina e óleo - às vezes até 13 camadas em um único lugar. O que deveria ser uma solução para proteger as obras, acabou por acelerar a degradação delas com o passar dos anos. ** Conheça mais sobre o Museu Nacional Eugène Delacroix **

A participação de Juarez na produção audiovisual, entre outras coisas, retrata trocas de cartas em que o artista explica as adversidades que fizeram com que a conclusão da obra se estendesse tanto. Para o artista brasileiro, as cenas foram desafiadores: imagine, hoje em dia, você ter de escrever com bico de pena e em letras cursivas. É o oposto de Juarez, que escreve sempre em estilo "forma" e já é tão adepto dos teclados do computador quanto sua neta. Nos bastidores, ele até recordou com humor o fato de não ser um bom aluno na infância e receber "reguadas" da professora pela má caligrafia, o que não o livrou de ter de repetir várias vezes as escritas diante das câmeras.

Uma das cenas em que Machado precisa escrever as cartas como Delacroix

Bom humor, aliás, foi o que salvou o brasileiro do desgaste de quase oito horas de gravação sentado em uma pilha de livros, para que ficasse na altura desejada pela produção. Isso só em um dos dias. No seguinte, ainda havia outra passagem a ser gravada, a do momento da criação de um dos painéis, capítulo que exigiu alguns treinos do artista por trás das câmeras. Nada que ele já não estivesse acostumado. Quem acompanha a carreira do joinvilense sabe que esta empreitada já foi rotina para ele durante os primeiros anos de Fantástico, quando era Juarez quem criava, produzia e executava quadros de mímica no programa dominical.

Quem tiver curiosidade para saber como ficou o resultado, pode acessar o site do France 5, na seção "documentaires", durante o outono europeu. O canal disponibiliza as suas produções por lá.

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