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Overdose brasileira na Maison Européenne de la Photographie

  • Rafaela Mazzaro
  • 24 de jul. de 2016
  • 3 min de leitura

Nestes últimos dias que me restam em Paris, estive refletindo sobre a quantidade de referências ao Brasil encontradas ao longo da minha estada por aqui. Fora o número absurdo de brasileiros que vejo sempre vou a um lugar turístico (crise?), descobri que alimentamos a programação cultural da capital francesa de várias maneiras. Algumas delas ficaram registradas no blog (quem não lembra, só visitar os links abaixo).

Mas, sem dúvida, a concentração que encontrei na Maison Européenne de la Photographie, nesta semana, foi o ápice desta constatação. Dois fotógrafos brasileiros, um fotógrafo francês que por anos registrou o Brasil e um artista plástico que tem a fotografia como suporte para sua obra compõem, até agosto, a programação do espaço localizado na região do Marais. ** Um cantinho para se orgulhar no Pompidou **

A exposição principal é uma justa lembrança ao trabalho que o francês Marcel Gautherot (1910-1996) desenvolveu ao longo dos anos em que viveu no Brasil. A curadoria entre o acervo cedido pelo Instituto Moreira Salles, ao qual coube a missão da salvaguarda de 25 mil imagens, evidencia os aspectos etnográficos e arquitetônicos do legado do francês.

Arquitetura de Brasília registrada por Marcel

Marcel chegou ao Brasil em 1939 como tantos outros que fugiam da guerra. No Rio de Janeiro, ele conviveu com nomes como Rodrigo Melo Franco de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Lucio Costa, justamente no período em que ferviam as discussões sobre a criação de uma "identidade nacional". A exposição reúne a passagem do francês pela Amazônia, Bahia, Rio de Janeiro, Brasília, Minas Gerais, Pará, e revela os costumes e a cultura popular em cada um destes lugares.

Destaco a seção sobre o Barroco Mineiro, com cliques maravilhosos das esculturas do Aleijadinho, e sobre a construção da Capital brasileira embebida nos projetos de Oscar Niemeyer. Marcel chegou a estudar arquitetura na França e defendia a parceria entre ambas as artes: "Fotografia é arquitetura. Uma pessoa que não entende de arquitetura dificilmente será capaz de realizar uma boa fotografia".

Em outra sala, está o trabalho fotográfico do diplomata Joaquim Paiva que, como Marcel, acompanhou o nascimento de Brasília com uma câmara em mãos. Na via oposta ao francês, Joaquim direcionou sua lente para a ocupação plural da Capital. É na população das cidades-satélites que Joaquim encontrou as cores em meio à exuberância arquitetônica - e cinza - de Niemayer.

Imagens capturadas por Joaquim nos primeiros anos de Brasília

As figuras humanas também interessam a Celso Brandão, mais conhecido pelo seu trabalho no cinema, mas que surpreende tanto quanto no registro estático. "Caixa Preta" é o nome da pequena mostra de fotos selecionadas por Miguel Rio Branco, responsável por "fuçar" os arquivos de Brandão e tirar de lá matéria-prima pouco conhecida do público em geral. A parceria rendeu um livro e esta exposição, que apresenta cerca de 20 imagens feitas na década de 1990 durante as andanças de Brandão pelo Nordeste.

Retratos feitos por Brandão de personagens do Nordeste nos anos 1990

A última - e não menos importante - mostra é resultado de um conjunto de 16 quadros de Vik Muniz emprestado pelo francês Lorenz Bäumer, considerado o maior colecionador do artista brasileiro na França. As obras fazem parte do trabalho que Vik realiza com colagens e material perecível, que, após a montagem, são fotografados.

Sarah Bernhardt, after Nadar (2010) e Starry Night, after Van Gogh (2012)

Há quadros das séries em que Vik referencia artistas mundialmente conhecidos, como Degas, Nadar e Van Gogh; das série com chocolate e espaguete; além de um retrato do próprio Lorenz. Entre meus favoritos está uma panorâmica de Paris feita com fragmentos de postais.

Atualmente, Vik também expõe numa boutique refinada de Paris. Depois de passar pela Maison Européenne de la Photographie, você pode dar um pulinho até a avenida Champs Elysée e conferir a mostra "Matières, voyage aux frontières de l’invisible", na loja Guerlain. Lá está uma instalação efêmera composta por matérias-primas utilizadas na composição de perfumes. A Maison atende de quarta a domingo, das 11h às 19h45. A programação relacionada ao Brasil segue até 28 de agosto e inclui sessões de curtas e longas metragens brasileiros. O ingresso custa 8 euros.

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